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Distúrbios de Aprendizagem - Discalculia

Denise Schmitt Garcia

 

Discalculia é um transtorno pouco discutido, mas muito presente nas escolas e bastante relevante para quem vive e convive com os sintomas no dia a dia. É um transtorno neurológico caracterizado pela dificuldade de processar tarefas que envolvam números ou conceitos matemáticos.


Apesar de comprometer atividades que parecem óbvias, como por exemplo, contar de 0 a 10, a discalculia, assim como as outras dificuldades de aprendizagem que falamos em artigos anteriores, não está associada à limitação cognitiva ou a qualquer tipo de doença.


Entender o significado dos números e tudo o que eles representam parece um processo natural e instintivo, quando falamos de desenvolvimento humano. Afinal, aprendemos espontaneamente a contar, significar e quantificar cada um dos números e então, através da atribuição de valores associada à representação dos símbolos, conseguimos nos orientar no espaço, no tempo, entender problemas matemáticos, analisar viabilidades...


Esse aprendizado normalmente acontece! Mas... e quando as coisas não fluem? Já imaginou a dificuldade de pessoas que não conseguem pensar dentro de nenhuma perspectiva numérica? Esse é o universo da discalculia!


Diferente da dislexia, (abordada no artigo anterior) ainda não se sabe se a discalculia atinge mais meninos ou meninas. Sabe-se que as características persistem durante toda a vida e que os sintomas aparecem desde muito cedo.


Segundo a British Dyslexia Association, a discalculia afeta de 3% a 5% da população mundial e pode ter relação com a herança genética. Estudos de imagem cerebral mostraram algumas diferenças na função e na estrutura cerebral de pessoas com discalculia, destacando ações relacionadas a memória e planejamento. Há pesquisas que levantam hipóteses de que a discalculia por estar relacionada a alcoolismo fetal, nascimentos prematuros e/ou bebês com baixo peso.


A verdade é que os pesquisadores ainda não sabem qual a origem desse e de outros problemas de aprendizagem que resultam no insucesso escolar.


Com a necessidade de atingir níveis satisfatórios de conhecimento e desempenho, é na escola que as dificuldades de aprendizagem se tornam verdadeiros transtornos na vida das crianças.


Os desafios agora estão concentrados em reconhecer se as intervenções aplicadas às pessoas com discalculia, são capazes de “reprogramar” o cérebro, para diminuir as dificuldades matemáticas.


Assim como outros distúrbios, a discalculia pode ser remediada a partir do autoconhecimento, da identificação de dificuldades e da descoberta da melhor maneira de aprender, reter informações e utilizar o conteúdo aprendido nas atividades de rotina e no desenvolvimento global.


Não existe cura para o que não é doença! Discalculia é uma condição. E é possível melhorar os sintomas e seguir o curso natural da aprendizagem de maneiras diferentes.


Como identificar e diagnosticar a Discalculia?


As crianças pequenas com discalculia já apresentam dificuldades para tarefas simples como: contar, comparar (menor / maior - igual / diferente) , entender que quatro unidades é o mesmo que o número 4, que se escreve com a palavra quatro; compreender distâncias, ver as horas, se localizar em dias, meses e anos...


Quando crescem, passam a ter dificuldades em realizar operações matemáticas simples (3 + 4 = 7), dificuldade com símbolos e sinais desde o + e -, não entendem valores, medidas e, muitas vezes, não conseguem sequer acompanhar a pontuação de jogos esportivos.


Ao tornarem-se adultos, são incapazes de fazer estimativas, entender planilhas e gráficos, medir ingredientes, calcular distâncias ou fazer planejamentos que envolvam cálculo numérico.


Com todas essas dificuldades, a discalculia acaba criando inúmeros desafios relacionados ao tempo e espaço e costuma atrapalhar muito a vida das pessoas. Tanto o diagnóstico quanto as intervenções são feitas por uma equipe multidisciplinar que envolve psicólogos, psicopedagogos, pediatras e neurologistas. Ajudar o indivíduo a descobrir pistas e novas maneiras de lidar com a discalculia é bastante libertador para quem enfrenta esse tipo de dificuldade.


Dicas que ajudam a “driblar” a discalculia


Alguns procedimentos podem contribuir para amenizar as dificuldades:


Utilize sempre exemplos com modelos concretos para representar o sentido dos números. Pegue quatro laranjas, junte mais três, e mostre o que são sete laranjas, enfatizando e mostrando os números e a operação: 4 + 3 é igual a 7. O contato tátil estimula as conexões neurais.


Pense que a criança precisa “pegar” a quantidade para então, entender o número. Utilize material dourado, bolinhas, palitos, ábaco ou qualquer outro objeto com peças iguais, que podem ser manipulados e contados.


As bolinhas coloridas de Mm´s são excelentes para trabalhar quantificação e problemas matemáticos com crianças com e sem discalculia. Brincar com essas pequenas delícias garante a atratividade dos pequenos e proporciona muito aprendizado.


Na escola, o uso de calculadora e tabelas de tabuada facilitam bastante a execução das operações matemáticas e possibilitam maior agilidade. O desafio continua, afinal o aluno ainda terá que identificar a operação matemática para a utilização dos facilitadores. Mas as atividades fluem com mais tranquilidade e agilidade.


Quanto às avaliações, é preciso usar uma linguagem simples e objetiva, reduzir o número de questões e permitir um tempo maior de prova. A dificuldade de um aluno com discalculia começa no entendimento do enunciado.


É interessante considerar que uma parcela da avaliação seja feita oralmente, de forma que o entendimento e o processamento do conteúdo sejam avaliados e não somente a capacidade de produção e representação dos símbolos.


Jogos e Brincadeiras


Dominó

Desperta o raciocínio e incentiva a comparação dos símbolos numéricos com a quantidade de bolinhas. Este jogo estimula uma estratégia de aprendizagem para as crianças com discalculia, que pode ser utilizada em atividades escolares.


Bingo

Para as crianças maiores (a partir dos cinco anos), este jogo contribui para a fixação e identificação da grafia dos números (símbolos) e é um exercício de memorização. Pode-se começar com números pequenos e decimais e evoluir para as centenas e milhares.


Amarelinha

Para as crianças pequenas com discalculia, contar até 10 já é um grande desafio. Aprender brincando ou cantando ajuda a associar o ritmo com a sequência numérica e isso também pode ser considerada uma estratégia de aprendizagem. Nesse sentido, todos os jogos que estimulam a contagem de “0” a 10 são estimulantes e importantes para o percurso pedagógico dos pequenos.


Tangran

Contribui para o aprendizado espacial e para as aulas de geometria.


Jogos de classificação

Separar animais por grupos e contá-los; dividir objetos por cor,

tamanho ou formas; separar grãos... sempre contando e mostrando

os números referentes. Diferenciar e priorizar critérios de


classificação é uma habilidade muito importante, desenvolvida

nesse tipo de atividade.


Brincadeiras e desafios de seriação

Organizar objetos do menor para o maior, ordenar copos com níveis diferentes de água, encaixar potes um dentro do outro... todas as atividades que exigem percepção espacial contribuem para a descoberta de novas maneiras de perceber o mundo.


Jogos online

Existe uma oferta muito grande de jogos e aplicativos que estimulam a organização espacial, temporal e a resolução de problemas matemáticos. Permita que a tecnologia seja uma aliada no alívio às dificuldades.


A discalculia atrapalha a vida acadêmica.


A pessoa discalcúlica imagina que para os outros a sua dificuldade parece incompreensível. Ela vive em constante conflito consigo mesma, colocando em teste diariamente a sua capacidade intelectual.


É preciso muita paciência. Essas pessoas precisam de ajuda para descobrir novas formas de aprender, contar, comparar e significar os números. Atrapalhar a aprendizagem não significa impedi-la.


Portanto, se preciso for, transforme os números do mundo em bolinhas e ajude o seu filho a carregar, significar e ressignificar cada uma delas, quantas vezes forem necessárias. Na discalculia, a soma de: empatia + esforço + persistência = conquista.

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