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Distúrbios de Aprendizagem - Disgrafia

Denise Schmitt Garcia

 


Disgrafia é uma dificuldade relacionada à fluência da escrita que prejudica e compromete a qualidade de tudo o que é produzido no âmbito da grafia. É transtorno de origem funcional, normalmente associado a um problema psicomotor. Acontece em crianças sem qualquer comprometimento cognitivo, emocional ou afetivo. E as causas podem estar relacionadas a eventos neurológicos, psicológicos, oftalmológicos e auditivos.


Assim como outros transtornos de aprendizagem, a disgrafia não está associada a qualquer comprometimento intelectual. A pessoa disgráfica é capaz de falar e ler corretamente, mas encontra muita dificuldade na reprodução dos traçados que representam a sua leitura (escrita).


Falta-lhe coordenação motora fina, organização espacial e, em alguns casos, percepção para estabelecer a relação entre o sistema simbólico e as grafias que representam o som das letras, palavras e frases. Tem uma similaridade com a dislexia, que apresenta esse mesmo tipo de dificuldade, porém, com relação à leitura.


Os problemas relacionados à disgrafia começam a ficar mais evidentes quando o indivíduo precisa desenvolver a linguagem escrita, o que normalmente ocorre por volta dos seis anos. O traçado evidencia o problema: a criança tem dificuldade em juntar as letras e utiliza pouca ou muita força na pressão do lápis sobre o papel.


A escrita costuma ser mal elaborada, mostrando uma deficiência nesse tipo de competência. A pessoa disgráfica tem dificuldade em coordenar a letra com a escrita, se esquece como se escrevem determinadas letras e os movimentos corretos para ter um bom resultado gráfico. Por conta disso, a disgrafia também é conhecida como “síndrome da letra feia”.


As pessoas com características disgráficas apresentam lentidão na escrita, não respeitam espaçamentos, linhas e margens, e o contexto de suas produções é sempre confuso e repleto de erros. Seus textos trazem traços irregulares, letras de tamanhos diferentes, trocas e omissões. Na maioria dos casos, as produções são bastante desorganizadas e muitas vezes ilegíveis.


Ao analisar o ato de escrever, percebemos que, para que a escrita aconteça, é necessário canalizar a energia do corpo para dar ritmo e persistência aos músculos da mão. Além disso, é preciso retomar a aprendizagem da linguagem, a concentração, a memória e a decodificação de fonema – grafema.


Fonemas são sons que, articulados e combinados, constituem as sílabas, as palavras e a frase, na comunicação oral. Grafema é letra, símbolo gráfico que usamos para construir palavras. Fonema é a unidade sonora utilizada para formar e distinguir palavras; grafema é a representação gráfica do fonema.


A maioria das crianças realiza as tarefas de ler e escrever sem atropelos. Mas algumas encontram dificuldade em coordenar essas habilidades necessárias para conseguirem bons resultados na fala e na escrita. E aí, os problemas escolares começam a aparecer.


A letra é uma forma de expressão


As intervenções em torno da disgrafia são bastante complexas. É preciso considerar o entorno e as características gerais da criança para eliminar outros possíveis problemas que podem contribuir para o insucesso pedagógico, não somente na escrita.


De qualquer maneira, muitas das práticas facilitadoras estão relacionadas com o desenvolvimento da coordenação motora. Por isso, faço um recorte para falar um pouco sobre psicomotricidade (integração das funções motoras e psíquicas em consequência da maturidade do sistema nervoso).


Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade, esse é o termo utilizado para descrever a ciência que estuda o processo de maturação do indivíduo, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É preciso conhecer o próprio corpo, identificar as dificuldades, exercitá-lo, para então, utilizá-lo adequadamente.


No caso da disgrafia, é preciso conhecer e estimular o corpo como um todo; desenvolver os movimentos e músculos utilizados na escrita. Mas também ter um olhar atento para questões como: auto confiança, persistência e tolerância a frustração.


A educação psicomotora é fundamental na vida da criança e reflete o histórico da vida do sujeito. Através dela, podemos observar o desenvolvimento do corpo; como a criança vê, e se vê no mundo; suas relações sociais; a forma como pensa e age; como expressa seus sentimentos e a maneira que usa seu corpo como instrumento de comunicação. A partir dessas percepções, é possível fazer intervenções para atingir um equilíbrio de corpo e mente.


A psicomotricidade trabalha a tonicidade do corpo, a equilibração, a noção corporal, lateralidade, estruturação temporal – espacial, praxia (capacidade de ação prática) global e praxia fina. Quando o corpo se desenvolve integralmente, a coordenação motora fina é potencializada e a criança consegue utilizar melhor suas habilidades para novos aprendizados.


Neste contexto, podemos considerar a letra como forma de expressão de um indivíduo, uma habilidade que costuma ainda, apresentar outras questões a serem desenvolvidas.


Como minimizar os sintomas da disgrafia


Algumas atividades, jogos e brincadeiras podem minimizar a disgrafia.


Pintura


O uso de tintas e pincéis permite um exercício de controle da pressão feita sobre a folha de papel no momento da escrita. É possível também trabalhar com traçados variados para estimular e desenvolver a coordenação motora fina.


Massa de modelar


Contribui para o exercício da musculatura das mãos, aumentando a resistência e a tolerância exigidas no momento da escrita.


Posicionamento


A maneira como a criança segura o lápis é determinante para a sua persistência na escrita. Segurar o lápis de maneira correta cansa menos! A posição do papel sempre reto e de frente para a criança, também facilita a ordenação de suas produções gráficas.


Exercícios grafomotores


Ligar os pontos, passar por cima de tracejados, seguir pontilhados, completar sequências de desenhos... desenvolvem a coordenação motora e a habilidade manual com o lápis.


Recortar e comparar


O recorte de linhas retas contribui para que a criança se oriente ao escrever em uma linha, por exemplo. Recortar figuras e formas geométricas para depois colar em cima de outra figura igual, contribui para o desenvolvimento da noção espacial.


Caligrafia


Livros de caligrafia são aliados para o desenvolvimento da escrita. Eles treinam o aperfeiçoamento e a fixação do movimento das letras, reforçam a necessidade dos espaçamentos e permitem que a criança evolua gradativamente, de acordo com o seu ritmo. Não devem ser utilizados como técnica de cópia exaustiva, mas sim como objeto de estímulo de desenvolvimento da letra.


Bola


Jogar bola com as mãos e os pés contribui para o aprendizado de direita e esquerda, em baixo e em cima, frente e trás, e permite o desenvolvimento de novas estratégias para incrementar a brincadeira.


Desafios de escrita


É possível brincar de escrever e propor pequenos desafios para estimular este tipo de brincadeira. Escolha uma palavra grande e desafie a criança a escrevê-la sem levantar o lápis do papel. Escreva uma palavra qualquer, apague e peça para a criança reproduzir a escrita por cima de seu traçado.


Giz


Com o giz de lousa, reproduza as letras cursivas no chão e peça para a criança caminhar sobre elas, fazendo o movimento correto da escrita. Comece com letras isoladas, depois passe para as sílabas e, em um estágio mais avançado, arrisque escrever palavras inteiras.


Calígrafo não, mas médico...


São muitas as atividades e intervenções possíveis que diminuem os sintomas da disgrafia. Uma pessoa com essas características jamais será um calígrafo profissional. Mas existe uma infinidade de outras profissões que ela poderá escolher e exercer tranquilamente. Afinal, existe letra mais ilegível do que a de médico, por exemplo?


Entender a disgrafia e reeducar os hábitos e estímulos do dia a dia garantem uma boa qualidade de vida, sem qualquer déficit significativo para quem enfrenta esse tipo de dificuldade. Seja persistente!

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