Denise Schmitt Garcia
A palavra Dislexia, significa dificuldade (dis) com as palavras (lexia). E, assim como o TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (ver artigo anterior neste blog), está entre os principais transtornos de aprendizagem relacionado às crianças.
Ela engloba dificuldades na leitura e na escrita por um déficit no processamento fonológico. Mas não compromete o desenvolvimento cognitivo, a não ser que esteja associada a outros transtornos.
Sua origem é neurobiológica e as principais características estão relacionadas à dificuldade de leitura e ao reconhecimento das palavras. É mais comum se manifestar em meninos e pode estar associada à herança genética.
No DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5º. edição), Dislexia é considerada de forma ampla e, com isso, está incluída na categoria de “Transtornos do Neurodesenvolvimento”. No entanto, é referida como “Transtorno Específico de Aprendizagem” e não categorizada como doença ou patologia.
De acordo com a ABD (Associação Brasileira de Dislexia), esse transtorno está presente em uma porcentagem de 0,5 a 17% da população mundial, podendo se manifestar em pessoas com inteligência normal ou até superior, e costuma persistir por toda a vida.
As crianças disléxicas, apresentam um processamento mais lento e uma capacidade de fluência e memorização reduzida. Segundo especialistas, elas podem demorar cerca de quatro vezes mais para entender uma única frase. Isso acontece porque os sons, as formas e as letras se confundem ao serem percebidos, o que acaba prejudicando o processo de formação de sílabas, palavras e frases.
É como se as letras se embaralhassem, prejudicando todo o sentido daquilo que está sendo lido.
Existem graus de Dislexia e os sintomas podem se apresentar em diferentes níveis. Sendo assim, os critérios de diagnósticos foram divididos, para potencializar as intervenções e formas de tratamento.
- Dislexia Auditiva ou Disfonética: é a mais comum entre todas. Consiste na dificuldade de diferenciação, análise e nomeação dos sons da fala. Para as crianças com esse tipo de dislexia, soletrar é uma tarefa árdua e elas podem não conseguir dividir uma palavra em sílabas. Apresentam dificuldade em diferenciar letras e palavras cujo som é semelhante /m/ com /n/, por exemplo. Não percebem que os sons iniciais e finais de certas palavras são iguais, trocam a ordem das consoantes e confundem dígrafos (telha/tenha). Podem apresentar problemas na memória auditiva e são crianças que tendem a escrever muito devagar. Rasuram muito, devido à sua insegurança em soletrar as palavras.
- Dislexia Visual ou Diseidética: dificuldade nas tarefas de percepção e discriminação visual. Confundem letras e palavras parecidas, por exemplo: /b/ /d/ ou /p/ - /apartar/ por /apertar/. Normalmente escrevem letras de tamanhos diferentes e disformes. Apresentam omissões, rotações, trocas e inversões.
– Dislexia Mista ou Visuoauditiva: Quando existe a combinação de mais de um tipo de dislexia, fica quase impossível a leitura. As dificuldades se apresentam tanto na análise fonética das palavras como na percepção de letras.
Como reconhecer a Dislexia?
Não é possível identificar a dislexia em exames laboratoriais. O diagnóstico é clínico e comportamental, realizado por meio da observação, exclusão de possibilidades e análise do entorno.
É recomendada sempre uma avaliação multidisciplinar do neurodesenvolvimento da criança, por meio de uma equipe formada por: neuropediatra, fonoaudiólogo, psicopedagogo, entre outros profissionais. Os sintomas começam a aparecer com mais frequência quando a criança entra em contato com letras e números. Coincide com o período de alfabetização, e a escola torna-se um ambiente de muita dificuldade na vida dos pequenos.
Nos primeiros anos de vida, percebem-se atrasos na fala, omissões de sílabas ou uma fala inteligível. À medida que as crianças crescem, podem ser mais desengonçadas, sem muita coordenação motora e um pouco esquecidas.
Durante o período de alfabetização, elas têm dificuldade em memorizar letras e sons e acabam se desinteressando por livros ou atividades que envolvam leitura e escrita. Decodificar as letras quando se troca sempre o T pelo D, o P pelo B ou o F pelo V, por exemplo, torna qualquer tipo de leitura inviável e muitas vezes frustrante.
As crianças disléxicas costumam cometer muitos erros de ortografia, pois não consideram os símbolos gráficos da mesma forma que uma criança sem dislexia. Costumam fazer trocas ou omissões de letras assimétricas, com sons parecidos ou de grafia similar, que comprometem o resultado da leitura. São comuns trocas como: F/V, P/B, T/D, D/B, M/N, A/E, entre outras. Assim, palavras como: TESOURO, pode virar BESOURO, DADO pode virar BABO, que pode ser lido também como BRAVO.
Por todas essas dificuldades de decodificação, essas crianças apresentam leitura lenta, soletrada e com muita dificuldade. Erros de pontuação, fala com qualidade comprometida, esquecimentos de aprendizados básicos relacionados a letras e sons e imaturidade também são alguns sintomas presentes em crianças disléxicas.
Cuidados na escola
Na escola, a aprendizagem torna-se um desafio para o professor e para o aluno com dislexia.
A escola precisa conhecer as características do transtorno para utilizar as melhores intervenções pedagógicas em crianças com quadros de dislexia. É muito importante o envolvimento de toda a equipe pedagógica para acompanhar e apoiar o professor, que precisará de métodos alternativos para tornar a aprendizagem efetiva.
A figura do professor é muito importante na vida da criança com este tipo de transtorno de aprendizagem. Gosto muito de um filme indiano, chamado “Como estrelas na terra”, que aborda com muita clareza e sensibilidade, a importante conexão entre professor e aluno, no bom desempenho da criança disléxica na escola.
É fato que um olhar atencioso, somado às dinâmicas existentes para trabalhar a dislexia, proporcionam melhoras consideráveis na qualidade de vida dessas crianças. Mas o processo é lento e gradativo. É preciso ter paciência e persistência para perceber resultados, além de oferecer todo o apoio necessário para que mantenham o desenvolvimento, enfrentando qualquer dificuldade com confiança, sem prejudicar a autoestima.
As intervenções devem ser abrangentes e multidisciplinares. O acompanhamento de um fonoaudiólogo é muito importante, assim como psicopedagogos, psicólogos, reforços escolares e apoio pedagógico.
Cada família precisa encontrar um caminho viável de acordo com as suas possibilidades. Em qualquer situação, é fundamental que a comunicação seja efetiva e eficiente entre família, escola e terapeutas responsáveis pelas intervenções com a criança.
Lembre-se de que a escola será sua aliada nesse tortuoso caminho da aprendizagem. E seu filho será o foco principal de todos os envolvidos. Uma criança com dislexia é sempre um desafio para a escola. Mas se trabalharem juntos – família e escola, o caminho se tornará mais bonito, menos árduo e mais curto para ela. E este deve ser sempre o objetivo.
Como estimular as crianças com Dislexia?
Atividades de percepção auditiva
Atividades com música estimulam a criança com dislexia e trabalham ritmo, concentração e atenção. Usar rimas, por exemplo, é um excelente exercício, pois o som trabalha a forma como ele é produzido e processado.
Bater palmas para a criança imitar, enquanto soletra palavras, trabalha a percepção da sequência auditiva, além de todas as habilidades de consciência fonológica. Ela percebe o tamanho das palavras, a sequência de sílabas e fonemas, as semelhanças e diferenças entre elas, e ainda aprende brincando.
As atividades de percepção auditiva são importantes para ajudar as crianças com dislexia a perceberem o som e as formas das letras e palavras. Já as atividades de percepção visual, contribuem para a diferenciação dos símbolos gráficos e estimulam a aprendizagem da criança disléxica.
Jogos de mesa
Jogos de Sete erros, Forca, Lince, Caça-palavras, quebra cabeça de sílabas, jogos de comparação de escrita com figuras e todas as dinâmicas que envolvem o aprendizado e a fixação de sílabas, contribuem de maneira leve e divertida para o desenvolvimento de uma criança com dislexia.
Estímulos à leitura
Frequentar livrarias, conversar sobre os livros e brincar com eles, despertam o interesse pela leitura e diminuem o preconceito adquirido pela dificuldade enfrentada. Incentivar a criança a ler, de sua maneira, e ressaltar os acertos que ela apresentar colaboram para a autoestima.
Portanto, leia para a criança e, sempre que puder, mostre as diferenças entre as letras que ela apresenta trocas. Essas diferenças podem estar relacionadas com o som, o formato, as situações que aparecem na escrita, entre outros. É importante fazer isso na sua leitura e não no momento da leitura da criança.
Use e abuse dos softwares e até videogames específicos para treinar as habilidades de leitura e escrita. Os audiolivros também estimulam a associação do som das palavras às letras e isso faz com que os disléxicos tenham mais agilidade na leitura.
Criatividade e inteligência
Assim como as crianças com TDAH, as crianças disléxicas são bastante criativas e podem com facilidade se sobressair em atividades que envolvam desenho, pintura, esportes, desenvolvimento de novas tecnologias e novas possibilidades.
Ter dislexia não significa ser menos inteligente ou menos capaz. Significa que existe uma dificuldade na compreensão do universo da leitura e da escrita que poderá ser atenuada, criando-se estratégias para minimizá-la. E ponto!
Com paciência, dedicação e investimento dos pais, da escola e da própria criança, é possível ter uma vida normal, ingressar em universidades, escolher uma profissão e adquirir sucesso nas próprias escolhas.
O melhor caminho é reconhecer e aceitar a dislexia. A partir dessa aceitação, envolver as pessoas que irão dar suporte ao desenvolvimento da criança e então, enfrentar os desafios!
Não se esqueça: caminhos difíceis tornam o ponto de chegada muito mais belo!
muito bom, a criança com dislexia auditiva pode ter dificuldade na fala, pois acredita-se que o som chega fragmentado ao cérebro e por isso a criança se recusa se recusa a falar pois não tem certeza, não consegue identificar corretamente o som que utiliza para a comunicação. como tratar esses casos?