Denise Schmitt Garcia (*)
No capítulo 9 do meu livro “Felicidade vem de Berço”(**), iniciei uma abordagem sobre o respeito e o preconceito existente em vários círculos sociais dentro do universo infantil. Alertei sobre a necessidade de acolhimento e supervisão, falei suscintamente sobre a questão do bullying na escola e sobre o respeito, muitas vezes ignorado no ambiente escolar, por alunos, pelos profissionais de infraestrutura e até educadores.
Uma boa escola oferece a maior e melhor interação social que uma criança pode ter! É onde ela precisa se expor, demonstrar fraquezas e pontos fortes, precisa conviver, ceder, respeitar, se impor, compartilhar, trocar experiências, aceitar, buscar conhecimento, fazer parcerias... tudo isso em um ambiente heterogêneo, com pessoas de diferentes mundos, com diferentes pensamentos, condutas e valores de educação.
Mesmo não sendo a melhor escola do mundo, é ali que a criança vai começar efetivamente a conhecer, a se conhecer e a viver o mundo fora da casa.
Entre brancos, pardos, negros, heteros, homossexuais, ricos, pobres, marginalizados, religiosos, ateus, órfãos... a amplitude da configuração de cada uma das escolas é de uma riqueza pessoal e social tão grande que me entristece pensar no tempo que as crianças e adolescentes estão fora da escola, dentro de suas bolhas, sem o retorno às aulas presenciais.
Lamento muito a forma como a Educação está sendo tratada em nosso país. Lamento o descaso público, a guerra política no meio acadêmico, a postura de sindicatos, a disseminação da “mídia do medo”, lamento a falta de estrutura nas escolas, a falta de prioridade em considerar a Educação como ESSENCIAL, não só juridicamente, mas na prática!
Para mim, a Educação é a única ferramenta capaz de desenvolver efetivamente um país, um povo, uma sociedade, e assim oferecer esperança de dias melhores. Vivemos tempos difíceis e tristes e, na falta da escola, as crianças perdem, a sociedade perde! O Brasil perde! E assim vamos ficando para trás, sempre à deriva, dependente cultural e tecnologicamente de países desenvolvidos. Vamos deixando sempre a desejar perante o mundo, destruindo, queimando e desprezando todo o potencial e riqueza que temos, que o mundo todo enxerga a olho nu e que muitos de nós brasileiros, por incompetência e/ou ignorância, se mantêm cegos, alheios, e aconchegados em um berço esplêndido prestes a ruir. Até quando deixaremos de ser prioridade para nós mesmos?!
A pandemia nos isolou, nos fez mais egoístas, apesar da necessidade do pensamento coletivo. Alguns problemas foram potencializados, e a desigualdade tornou-se ainda mais escancarada em nosso país. A escola fechou, as crianças que eram protegidas passaram a ser megaprotegidas, fizeram aulas particulares, tiveram vivências diferentes e sofreram com as privações sociais. Já as crianças negligenciadas, ficaram sem o pouco que tinham, sem a educação formal, mas com a formação das ruas, em meio a falta de tudo e ao risco iminente, também sofrendo com a ausência da escola.
Mas como propor um retorno? Como corrigir tanto prejuízo? Como acolher novamente as crianças da pandemia? Como administrar a volta escolar diante de tanta dificuldade e desigualdade? Penso que levaremos anos para recuperar o tempo perdido, anos que já não tínhamos e que agora marcam ainda mais o nosso fracasso escolar.
O preconceito é algo enraizado na cultura brasileira. Vai desde o preconceito racial da época da escravidão, ao preconceito cultural da “lei do jeitinho brasileiro”. É comum valorizarmos o mais esperto, mesmo que para isso alguém se prejudique. Negros ainda sofrem com a desigualdade, mulheres ainda são prejudicadas no mercado de trabalho e homossexuais são desconsiderados. Vivemos em meio à corrupção de valores, corrupção que passa de geração em geração e dificulta nosso progresso e o nosso desenvolvimento.
Em muitas escolas, reproduzem-se cenários encontrados na sociedade ampla: entre as crianças, existe sim o preconceito racial, o social, a corrupção através da “cola”, a exclusão pelo bullying, o desrespeito à hierarquia dos alunos com relação aos professores e o desrespeito dos educadores, na utilização de discursos político partidários em conteúdos escolares.
Precisamos valorizar cada vez mais a verdadeira escola! Sobretudo é preciso estimular e valorizar o RESPEITO! Necessitamos, com urgência, intensificar a escola do Aprender, do Trocar, do Ensinar, a escola que contribui, que oferece ferramentas para a formação de opiniões, que oferece questionamentos, que instiga, que acolhe e que EDUCA.
O papel da escola é maior do que ensinar a matemática. O papel da escola é incentivar o crescimento de uma nação! É manter acesa a chama do conhecimento entre as gerações, é instigar para inovar, é o lugar de verdadeiros professores para sensibilizar alunos realmente interessados. Professor respeitando o aluno com o compromisso de transmitir conhecimento e alunos em busca de experiências que os diferenciem e os tornem atuantes para obter uma vida melhor dentro e fora de casa.
A competitividade é saudável quando o respeito é preservado! E na escola, seja branco, preto, menino, menina, rico, pobre... é preciso retomar o convívio, o respeito e a aprendizagem de vida. A escola “pós pandemia” precisa reafirmar o seu papel no desenvolvimento das crianças, precisa ajudar a combater o preconceito estrutural dessa nova geração que carrega a nossa esperança em um mundo mais justo e igualitário.
Mas todo esse movimento em direção ao respeito e à conscientização começa internamente, em cada um de nós. Podemos trabalhar juntos, propor mudanças, contribuir para que as crianças retomem a aprendizagem efetiva, dentro e fora das escolas.
Penso que, todos nós vivemos dias difíceis, mas não podemos parar e muito menos retroceder! Não seria o momento de identificar os conflitos, buscar soluções e unir forças em favor das nossas crianças?
(*) DENISE SCHMITT GARCIA É PSICOPEDAGOGA, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO INFANTIL E AUTORA DO LIVRO “FELICIDADE VEM DE BERÇO” - denisepersonalkids@gmail.com
(**) FELICIDADE VEM DE BERÇO, DENISE SCHMITT GARCIA, EDITORA APPRIS, (41) 3156-4731
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